03/04/2023 | Escrito por: Caio César Caetano Nascimento e Késia Carellos Lincher Lucca
INTRODUÇÃO
A cinematerapia é proposta como uma das diversas alternativas de intervenções terapêuticas na Psicologia, destacando o uso de filmes na psicoterapia como forma de intervenção em pacientes. Tal prática no contexto clínico, segundo Rocha; Oliveira; Gonçalves (2016), não é recente, mas é pouco divulgada no meio científico.
Sendo assim, alguns filmes são capazes de provocar nas pessoas importantes experiências psíquicas. Através das cenas dos filmes, os espectadores vivenciam as ficções como se fosse impressão da realidade. Essas vivências podem levar a novas percepções e ao entrelaçamento das objetividades e subjetividades humanas com o mundo. Dito de outro modo, o cinema permite uma ampliação da percepção sensível, que pode revelar aspectos da realidade até então desconhecidos para o espectador.
A indicação de filmes atua no sentido de prover o paciente/espectador de recursos que o ajudarão indiretamente em seu processo terapêutico. È como se o cinema “emprestasse” ao espectador sua força comunicativa e através dela ele expressasse sua realidade. A natureza multisensorial do cinema o torna uma experiência rica e envolvente. Nenhuma outra forma de arte parece permitir uma ligação tão eficaz e poderosa sobre aquele que a contempla (NETO; MAIA; CASTILHO, 2005).
1.OBJETIVOS E DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS
Estudar sobre a utilização do uso do cinema e do processo narrativo das linguagens fílmicas, como técnica adjuvante nas psicoterapias cognitivas.
Pretende-se mostrar que o cinema pode ser útil nas intervenções psicoterapêuticas e que através da utilização de filmes, pode- se alavancar os processos de mudança e de realinhamento dos eventos de vida, estabelecendo um correlato entre um caso clínico da literatura e alguns filmes do cinema contemporâneo, identificando técnicas da terapia cognitiva que poderiam ser utilizadas através dos filmes.
Ademais, a proposta da cinematerapia, é que ocorra mensalmente ou de dois em dois meses no auditório do Centro administrativo Mariano Pires Pontes com os respectivos participantes dos grupos de Psicologia do programa Mexa-se.
Afim de elucidar a questão, o objetivo geral do trabalho tem por finalidade apresentar filmes como ferramenta para realização da psicoterapia em grupos do programa Mexa-se, sendo os específicos: identificar os transtornos abordados nos filmes assistidos e contextualizar filmes para os diferentes transtornos psicológicos apresentados pelos participantes do grupo.
Assim, utilizar os filmes como uma psicoeducação sobre diversos temas do cinema e suas abordagens, podem proporcionar reflexões fundamentais na argumentação terapêutica. A intenção do terapeuta na indicação dos filmes pode ser no sentido de: oferecer esperança e encorajamento ao paciente por meio de personagens com histórias e problemas semelhantes com posterior superação; reformular problemas a partir das crises ficcionais dos personagens, melhorar a comunicação através do uso de metáforas apresentadas nos enredos dos filmes para os que apresentam dificuldades em se expressar verbalmente; utilizar de forma terapêutica as metáforas contidas nos filmes para facilitar a discussão de temas tabus e melhora da aliança entre terapeuta/paciente (OLIVA; VIANNA; NETO, 2010).
1.1 Sugestões de filmes como adjuvantes à psicoterapia
1.2 Perfume de Mulher
Tema: solidão, depressão e ideação suicida. Título original: Scent of a woman
Gênero: drama Ano: 1992 (EUA)
Elenco: Al Pacino, Chris O´Donnell, James Rebhorn, Gabrielle Anwar.
Sinopse: drama que conta a história da amizade entre o tenente coronel Frank Slade, um militar que ficou cego, e o jovem estudante Charlie Simms. No papel do Tenente, Pacino transmite todo o ressentimento e a amargura de alguém que, não obstante a perda da visão deixa- se dominar também por uma triste "cegueira de sentimentos". Viajam juntos para Nova York, onde Frank pretende passar um final de semana inesquecível e aproveitar cada minuto da sua vida antes de tirar sua própria vida. Durante essa viagem, a amizade criada entre os dois aos poucos vai permitindo que o militar esqueça, mesmo por alguns momentos, sua infelicidade.
1.3 Simplesmente complicado
Tema: família, divórcio e romance Título original: It's Complicated Direção: Nancy Meyers
Gênero: comédia romântica Ano: 209 (EUA)
Elenco: Meryl Streep, Steve Martin, Alec Baldwin, John Krasinski.
Sinopse: Jane é mãe de três filhos e mantém uma relação amigável com Jake, seu ex-marido, de quem se separou há dez anos. Quando eles se encontram para a formatura de um dos filhos, fora da cidade, surge um clima e eles passam a ter um caso. Só que Jake é agora casado com Agness, o que faz com que Jane torne-se sua amante. Paralelamente, Adam entra na vida de Jane. Ele é um arquiteto contratado para remodelar a cozinha do restaurante de Jane e, aos poucos, se apaixona por ela.
1.4 Elza e Fred
Tema: solidão e relacionamentos Título original: Elza Y Fred Direção: Marcos Carnevale Gênero: drama
Ano: 2005 (Argentina)
Elenco: Manuel Alexandre, China Zorrilla, Bianca Portillo
Sinopse: Fred é um homem aposentado com mais de 80 anos, que leva uma vida tranqüila até descobrir que está doente. O que parecia ser o fim de sua vida muda completamente quando ele conhece Elsa, sua vizinha, que também tem em torno de 80 anos. Juntos eles realizam novas experiências, redescobrindo o prazer de viver.
1.5 Divã
Tema: separação, relacionamentos, terapia Título original: Divã
Direção: José Alvarenga Jr. Gênero: comédia
Ano: 2009 (Brasil)
Elenco: Lília Cabral, José Mayer, Alexandre Richter, Cauã Reymond
Sinopse: Mercedes é uma mulher casada e com dois filhos que, aos 40 anos, tem a vida estabilizada. Um dia ela resolve, por curiosidade, procurar um analista. Aos poucos ela descobre facetas que desconhecia, tendo que contar com o marido Gustavo e a amiga Mônica para ajudá-la.
1.6 Magnólia
Tema: relacionamentos, depressão, conflitos Título original: Magnólia
Direção: Paul Thomas Anderson Gênero: drama
Ano: 1999 (EUA)
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Philip Baker Hall, Pat Healy, Tom Cruise
Sinopse: Magnólia, o filme, acompanha um único dia da vida de vários personagens, cujas histórias se interligam a todo instante. O roteiro se preocupa em, rapidamente, apresentar cada um deles, até como forma do espectador se situar na trama.
O tema principal do filme é o poder da culpa e do arrependimento na vida de pessoas comuns. A necessidade do perdão para alguns personagens é tanta, que a morte surge como único e tardio alívio. O personagem de Jason Robards é o símbolo desta mensagem. É dele uma das melhores frases do filme: “A vida não é curta. Ao contrário, a vida é muito longa”.
1.7 As Bruxas de Eastwick
Tema: mulheres, relacionamentos Título original: the Witches of Eastwick Direção: George Miller
Gênero: comédia /fantasia Ano: 1987 (EUA)
Elenco: Cher, Michelle Pfeiffer, Susan Sarandon, Jack Nicholson
Sinopse: Alexandra Medford, Jane Spofford e Sukie Ridgemont são três mulheres que vivem entediadas, na cidade de Nova Inglaterra. Essa rotina é abalada com a chegada de Daryl Van Horne, o homem ideal que elas tanto esperaram. Ele começa a satisfazer os desejos das três mulheres, iniciando também uma delicada guerra de sexo entre todos os envolvidos.
1.8 Descasada
Tema: relacionamentos, divórcio Título original: The Starter Wife Direção: Jon Avnet
Gênero: comédia
Ano: 2007(EUA/Austrália)
Elenco: Debra Messing, Molly Kagan, Judy Davis, Joan McAllister
Sinopse: descasada é uma inteligente e divertida viagem pelo poder da força de vontade, baseada no best seller de Gigi Levangie, O filme é centrado em Molly kagan, uma mulher que usa o humor e todo o seu charme para retornar sua vida após o divórcio de um poderoso magnata de Hollywood, que a trocou por outra mulher mais jovem. Essa comédia vai mostrar as situações mais hilariantes que uma recém- divorciada pode enfrentar.
1.9 Guerra Conjugal
Tema: crônicas sobre psicopatologia, guerra conjugal. Título original: Guerra Conjugal
Direção: Joaquim Pedro de Andrade Gênero: comédia
Ano: 1975 (Brasil)
Elenco: Cristina Aché, Wilza Carla, Maria Lúcia Dahl, Lima Duarte, Elza Gomes Sinopse: Guerra Conjugal apresenta alguns casos de amor patológico na vida moderna.
1.10 Encontros e desencontros
Tema: relacionamentos Título original: Luminárias
Direção: José Luis Valenzuela Gênero: romance
Ano: 2000 (EUA)
Elenco: Evelina Fernández, Cheech Marin, Marta DuBois, Scott Bakula
Sinopse: quatro mulheres bem-sucedidas se encontram em um restaurante de Los Angeles chamado Luminárias para compartilhar segredos sobre suas carreiras, amor, família e sexo.
1.11 Manual do Amor
Tema: relacionamentos (paixão, crise, traição e abandono) Título original: Manuale D'amore
Direção: Giovanni Veronesi Gênero: romance, comédia Ano: 2005 (Itália)
Elenco: Sergio Rubini, Sabrina Impacciatore, Luis Molteni, Dario Bandiera
Sinopse: sensível e romântica comédia sobre relacionamentos que visa retratar de uma forma inteligente e divertida os diversos estados pelos quais passam um casal. O filme é dividido em episódios que mostram quatro casais diferentes, cada um em um estágio do romance. Dessa forma, eles refletem a paixão, a crise, a traição e o abandono na visão do diretor.
1.12 Maridos e Esposas
Tema: relacionamentos, separações Título original: Husbands and Wives Direção: Woody Allen Gênero: drama Ano: 1992 (EUA) Elenco: Woody Allen, Mia Farrow, Sydney Pollack, Judy Davis Sinopse: o casal Gaby e Judy, chocados, recebe a notícia de que Jack e Sally, um casal muito amigo deles, está se separando, muito provavelmente pelo fato de Gaby e Judy também estarem se distanciando e agora tomarem consciência disto. Assim, enquanto Jack e Sally tentam conhecer novas pessoas, o casamento de Gaby e Judy se mostra desgastado e eles começam a se sentir atraídos por outras pessoas.
1.13 Pequeno Dicionário Amoroso
Tema: relacionamentos
Título original: Pequeno Dicionário Amoroso Direção: Sandra Werneck
Gênero: comédia Ano: 1996 (Brasil)
Elenco: Andréa Beltrão, Daniel Dantas, Tony Ramos, Glória Pires, José Wilker Sinopse: o filme acompanha, de forma bem humorada e poética, o itinerário sentimental das personagens.
Sugestões de filmes (PESKE; WEST, 2005; KEMP, 2011).
CONCLUSÃO
De acordo com as fontes bibliográficas pesquisadas, consideramos que a utilização de filmes e de suas narrativas como auxiliares a psicoterapia podem beneficiar os processos de mudança dos pacientes do grupo. A experiência de assistir filmes com foco terapêutico contribui nos processos de organização de conhecimento e construção de significados de vida dos participantes. As reflexões que foram apresentadas pretendem, portanto, indicar um caminho teórico metodológico de pesquisa que tenha como finalidade a utilização do cinema de forma mais dinâmica e diferenciada nos encontros de Psicologia em grupo com os alunos do programa Mexase. Por fim, conclui-se que a prática da cinematerapia, apesar das limitações, pode ser uma ferramenta de grande relevância no manejo clínico. Vale pontuar que a cinematerapia não é substitutiva do processo terapêutico tradicional, a sua finalidade é agregar um recurso para a execução de todo o processo em um trabalho grupal. REFERÊNCIAS NETO, F.L.; MAIA, M.C.; CASTILHO, S.M. Psicopatologia no cinema brasileiro: um estudo introdutório. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v.32, n.6, p.319-323, 2005. OLIVA, V.H.; VIANNA, A.; NETO, F.L. Cinematerapia como intervenção psicoterápica: características, aplicações e identificação de técnicas cognitivocomportamentais. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v.37, n.3, p.138-144, 2010. PESKE, Nancy; WEST, Beverly. Cinematerapia para a alma. Campinas: Verus. 2005. 224p. ROCHA, V. V. S; OLIVEIRA, M. C. F. A de; GONÇALVES, F. F. G. O uso de filmes como estratégia terapêutica na prática clínica. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. XVIII, n. 1, p. 22-30, 2016. Disponível em: < 15 http://www.usp.br/rbtcc/index.php/RBTCC/article/view/828> Acesso em: 24 jan. 2023.